Crônica, segundo o dicionário:

1. História que expõe os fatos em narração simples e segundo sua ordem;
2. Biografia escandalosa;
3. Diz-se da doença permanente no indivíduo.

sábado, 20 de setembro de 2014

Tristeza

Ah....
A tristeza e o tempo são primos
Ambos filho e sobrinhos da vida
O tempo é o filho mais velho da vida que toma o lugar do seu avô que também era o tempo.

Visto que o tempo criou a vida e a irmã da vida conhecida como "acaso" deu sentido a tristeza.

E concebemos que a tristeza faz parte da vida...

Estão ligados intimamente por um laço de família...

A felicidade é só o oposto da tristeza e nada mais, é uma emoção sem alma, sem sentido e sem propósito

Ou pelo menos assim acredito, pois estou triste.

E triste vou ficar, até aprender algo novo, que me faça ver a vida de outra forma mais uma vez...

terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

Pés descalços

Donny era uma cara comum, nascido e criado no subúrbio com culturas e costumes comuns...

Só tinha uma diferença e o seu próprio costume desde cedo, odiava sapatos e adorava andar, não correr e fazer caminhadas no parque da cidade, gostava de ir longe. Entre pedras e trilhas longínquas achava o seu paraíso.

Aos 13 anos andando de tênis durante horas. Reparou no odor e na temperatura de seus pés. O calcanhar branco, os dedos úmidos e retorcidos e nada relaxados.

Decidiu usar sandálias, depois chinelos, tudo que deixasse seus pés respirarem, não era Hippie, mas vivia descalço e seus pés sujos lembravam das estradas que tinha passado a cada deitada na cama de algum albergue que dormia, as vezes demorava 3 dias para lavar o pés, pois ainda nao havia terminado a estrada que escolhera percorrer, e mesmo que não os lavara sabia que o odor de seus pés era de terra e mato, diferente do odor horrível dos pés dos homens de terno que trabalhavam na cidade grande.

Após dois anos Donny, conheceu uma garota, estava na praia, e viu os pés desformes e marrons de uma dona que dançava sobre o luar. Gravou bem o tons azul de seu vestido e a pulseira verde, vermelha e amarela em seu tornozelo.

No outro dia enquanto caminhava na praia viu a mesma moça, a dona da noite anterior. E como mágica se encontraram, seus pés ainda estavam sujos, e não é que a dona se chamava Donna.

Não quero prolongar o conto, mas Donny e Donna, percorreram juntos muitas estradas, e as solas de seus pés sentiram rochas, lama, capim e areia, tantas vezes que se acostumaram a andar juntos e não poderiam mais caminhar sozinho sem as duas sombras no chão movendo-se em contraponto a luz de vários pores do sol.

Desse caminhar nasceu Diego, nasceu descalço e sentindo a terra sobre o seu chão, Diego aprendeu a cuidar daquilo que te leva a mundos incríveis,a cuidar dos pés e o deixar respirar e tudo que era seu, e que o levava a algum lugar Diego fazia o mesmo. Deixava se sujar, deixava respirar e ser livre e por isso ele sempre esteve pronto para o próximo passo.

Donny e Donna morreram velhinhos e de pés descalços e Diego sabia que a caminhada deles agora era em algodão e sabia que sua meta era alcançá-los algum dia.

Diego herdara a verdade do mundo. E sorria olhando para a barriga de Diana sabendo onde seus pés o levariam agora

Então cuida daquilo que te leva a lugares incríveis, mas o deixa sentir tudo, aspereza e maciez, aconchego e dor, deixa o livre e ache algo para seguir

A começar pelo seus pés.

domingo, 22 de maio de 2011

Maximus


Ó meu cãozinho

Se for para tu morrer que seja de carinho

Pois é isto que lhe darei até seu ultimo latido

Mas se for para ser forte

Como o negro de teus pelos enaltecem tua sorte

Se prepare para viver e estar sempre em companhia

De pessoas que tem amam e te enchem de alegria

Pois cãozinho doente da rua,você ja é tão da familia

Te prometo uma manta, uma tijela e uma bolinha

Lhe daremos carinho, leite quente e uma casinha

Só seja forte e se assegure do teu presente para gente

Que é ser forte

Que é ser mesmo o Presente dessa mente

terça-feira, 21 de setembro de 2010

Católica de pai e mão, tinha se acostumado com a ideia de divindades que os pais e os padres haviam lhe ensinado.

Havia sido criada com a obrigação de acreditar em um Deus onpotente, onisciente e onipresente - e muitas vezes teve vergonha de tomar banho, achando que alguém a observava atentamente.

Na adolescência se rebelou, trocou os vestidos e sapatilhas por mini-saias, meia arrastão e botas de cano alto. E passava as madrugadas na rua, gritando pela vida sob o efeito de uma bebida barata.

Até que um dia engordou, engordou tanto que a barriga já não cabia na mini-saia. Aquele Deus, que ela nem acreditava mais, havia lhe abandonado... de novo!

E foi levada ao hospital, com fortes dores abdominais. E presenciou um milagre!

Daquela dor surgiu algo que mudaria sua vida para sempre, que seria o maior desafio já vivido e a maior recompensa já recebida.

E entregando o pequeno milagre, a enfermeira perguntou:

- Já escolheu o nome?

- Maria, como a mãe de Jesus!





PS: Estou tentando voltar, aqui e acolá!

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

As flores dela

Ela costumava cultivar flores, de diversos tipos. Entristecia-se ao perceber que algumas delas não resistiam ao fim da estação e outras iam, pouco a pouco, perdendo o perfume até murcharem e morrerem. Mas ela não desistia e procurava incessantemente a flor perfeita, que sobrevivesse aos invernos mais rigoros, ainda que não com tanto vigor, mas, ao menos, com o mesmo perfume.

... E no meio do caminho achou um jardim, repleto de flores coloridas e que parecia não habitado. O lugar lhe parecia familiar, ainda que tivesse certeza de que era a primeira vez que colocava os pés ali. Teve medo da sensação, teve medo das flores, teve medo das transições das estações, mas o jardim era belo e ela não resistiu...

Adentrou por caminhos de curvas sinuosas, mas andava lentamente para não perder cada centímetro da paisagem, para não perder o equilíbrio, para não pisar nas flores.

... E aninhou-se nele com a sensação de retorno. Aquele perfume invadia o seu corpo, tomava conta de sua pele, dominava cada um de seus poros... e se sentiu em casa... e rezou para que o inverno não chegasse...

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Porto (seguro) do "Príncipe"

O pior já tinha passado, agora era só esperar a poeira baixar antes de arriscar sair de casa. Casa, aliás, quase intacta. Ajuda divina, afinal, era um homem de fé.

As poucas notícias vinham pelo rádio à pilha que ele escutava baixinho, bem próximo ao ouvido, na sala escura por falta de energia.

Agora tornara-se um refugiado, fugindo do comprometimento com o povo que tinha escolhido, anos atrás, como seu. A intenção inicial era ajudar, levar um pouco de paz. Mas agora a situação era diferente e pedia cautela. Ele sabia falar sobre a paz e o amor em seus discursos inflamados, mas no meio do caos, era impotente.

Seus suprimentos estavam devidamente escondidos, temia um saque, uma rebelião, uma invasão ao seu reduto. Ali, tudo estava bem, tudo estava em paz. O rádio dizia que a ajuda internacional estava chegando, não havia com que se preocupar, sua consciência estava tranquila. Ajoelhou e rezou por si mesmo.

Dias se passaram e tudo parecia mais calmo. Às vezes arriscava abrir um pedacinho da cortina e espiar as ruas desertas. Vez ou outra alguém passava correndo e ele se escondia. Estava protegido.

No fim do noticiário daquele dia, ao desligar o rádio, ouviu uma voz de mulher, um cântico que parecia já ter ouvido antes. Lembrou-se, era uma canção de ninar que as mães costumavam cantar.

Olhou pela janela e não viu ninguém. Abriu uma fresta da porta e olhou para a rua. Ninguém. Acreditou que pudesse estar tendo alucinações, mas percebeu que o som vinha da lateral da casa. E, com a coragem de um missionário cristão, deu alguns passos naquela direção.

Não queria ter visto aquela cena, nem ter sentido o que sentiu. Uma mulher suja, de roupas rasgadas, segurava o filho pequeno nos braços, morto, e cantava pra ele a única canção que lembrava naquele momento.

A mulher olhou nos olhos daquele homem branco, limpo, que parecia ter surgido de outro planeta pois em nada se parecia com um habitante dali.

- Ele correu para buscar ajuda e se perdeu. Acabou morrendo aqui. - disse ela, com lágrimas no rosto e uma dor delicada na voz.

Sua garganta se fechou. O nó! Virou-se de costas e partiu sem dizer nada, deixando a porta da casa entreaberta. Nunca mais foi visto

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Porta-retrato-falado

Ele não sabia mais o que fazer, já havia pensado em tudo, mas nada era capaz de apagar aquele cheiro de solidão. Há muito não eram mais aquele casal perfeito dos porta-retratos espalhados pela casa. Sentia saudades daquele tempo, do sorriso dela, dos carinhos mútuos, da compreensão e do perdão sempre disposto.

Agora, apenas olhava aquele rosto frio e ouvia o silêncio aterrador. Surtou. Ajoelhou-se ao lado dela em prantos, com um de seus porta-retratos em mãos.

- Há anos eu fico aos seus pés e te ouço dizer que eu faço tudo errado. A verdade é que eu nunca fui bom o suficiente pra você.

Silêncio.

- Talvez não seja só impressão, a verdade é que nunca foi amor. Nos casamos por decisão, por compaixão, porque não havia mais nada a fazer.

Silêncio.

- E nós nunca fomos felizes, Rosa. - lançou um dos porta-retratos na parede - Essas fotos não são nada mais que uma felicidade inventada, não era real pois, se fosse, não acabaríamos assim.

Silêncio.

- Durante muitos meses (e por que não "anos"?) eu esperei por uma resposta, por um sinal de que você estava presente na minha vida, mas você nunca se ocupou de mim. Vivi às margens da sua vida ridícula, sua vadia temperamental!

Silêncio.

- Minha luta foi inglória durante todos esses anos. Agora, não dá mais, eu tomei essa decisão e não vou, não posso voltar atrás.

Silêncio.

- Não fique me olhando com esses olhos parados, fiz tudo que podia, não posso fazer mais nada.

Silêncio.

E, ainda chorando, confessou:

- Eu te amei mais do que a mim mesmo, por isso permaneci até agora. Mas eu não aguento mais. Eu jamais poderia te deixar, você entende?

Silêncio

- Você entende porque estou fazendo isso? Eu espero que você me perdoe algum dia.

Ele levantou, olhou pela última vez aqueles olhos de jabuticaba parados, frios, sem brilho.

E ela não respondia. Não responderia nunca mais.